Úlcera de pressão (UP) é
qualquer lesão causada por pressão constante que resulta em danos nos tecidos
subjacentes e sua formação depende da intensidade e da duração da pressão exercida
sobre a pele e da capacidade da mesma e dos tecidos subjacentes de tolerar essa
pressão.
A UP pode postergar o
processo de recuperação funcional por limitar a execução plena dos exercícios
necessários a reabilitação, prolongar o período de hospitalização em até cinco
vezes e, na pior das hipóteses, pode levar ao óbito por infecção generalizada.
É considerada um problema
grave, especialmente em idosos, nas situações de adoecimento
crônico-degenerativo, podendo também ser encontradas em diversas situações
clínicas tais como a falta de sensibilidade, déficit de movimento, distúrbios
vasculares e alteração na percepção.
No Brasil, ainda não se tem
dados significativos relacionados à incidência, à prevalência e aos custos,
para mostrar a real situação do nosso país, pois existem ainda poucos estudos
realizados a respeito da UP.
Estima-se que 17% dos pacientes hospitalizados desenvolvem ou são
susceptíveis às UPs. Um estudo realizado por Blannes et
al. (2004) concluiu que 68% dos pacientes de um hospital que apresentavam UP,
desenvolveram a lesão no hospital e que 34% foi internada com uma pré-úlcera,
que piorou durante o período de hospitalização.
O mecanismo de formação de UPs consiste da interação de 3 fatores:
fisiopatológicos ou predisponente (corresponde ao conjunto de fatores de risco
ao qual o paciente agrega), biomecânicos ou determinantes (consistem na atuação
das forças de compressão, reação e cisalhamento, esta última sendo a resultante
e responsável pela isquemia e descontinuidade estrutural do tecido) e os
fatores agravantes (como a umidade proveniente tanto da incontinência fecal
quanto da urinária e pela sudorese intensa).
As proeminências ósseas
por serem cobertas apenas por uma fina camada de tecido subcutâneo ou muscular
tornam-se suscetíveis ao desenvolvimento de UP’s. Pacientes acamados,
debilitados, semicomatosos ou inconscientes, que apresentam áreas de anestesia
predispõem-se a desenvolver UPs por isquemia. As
localizações mais acometidas pelas UPs, portanto, são a região isquiática (24%), sacrococcígea
(23%), trocantérica (15%), calcânea (8%), maléolos laterais (7%), cotovelos
(3%), região occipital e escapular (1%).
A classificação adotada
para UP baseia-se na profundidade do acometimento e no limite entre os tecidos
lesados:
- Grau I: é uma resposta
inflamatória aguda, nas camadas da pele. Apresenta eritema em pele íntegra,
persistente mesmo após o alívio da pressão sobre o local. A identificação da
lesão grau I é dificultada em indivíduos com pele negra.
- Grau II: perda tecidual envolvendo a epiderme, derme ou ambas. A úlcera é superficial e apresenta-se clinicamente como uma bolha, abrasão ou cratera rasa.
- Grau III: comprometimento do tecido subcutâneo, podendo-se estender mais profundamente, até a fáscia muscular subjacente. Representa perda completa da pele.
- Grau IV: comprometimento mais profundo, com destruição extensa de tecidos, ulceração de espessura completa com tração extensiva, necrose tecidual, dano ao músculo, ossos e estruturas de suporte.
Dependendo do nível e da
profundidade da lesão nos tecidos, as úlceras podem trazer complicações, como
osteomielite, septicemia e mesmo levar o paciente a óbito. Além das perdas
financeiras ocasionadas ao paciente e a familiares, o problema traz também
transtornos psicológicos e impedem ou dificultam a participação do indivíduo em
programas de reabilitação.
Esse tipo de lesão representa grande ameaça ao indivíduo, pois
causa desconforto, e uma série de distúrbios ao organismo, como perda de
proteínas orgânicas, fluídos e eletrólitos. Podendo então o paciente apresentar
baixa resistência imunológica, o que possibilita a entrada de microorganismos como
estreptococos, estafilococos e
Escherichia coli, o que aumenta os dias de internação do paciente.
Aproximadamente 95% das UPs são evitáveis, pelo que se torna
indispensável empregar todos os meios disponíveis para realizar uma eficaz
prevenção e tratamento das UPs já instalada.
A adoção e implementação de medidas preventivas e de um tratamento
inicial agressivo para as UPs podem
significar medidas mais econômicas, reduzindo a necessidade de uma assistência
de alto padrão, equipamentos caros e intervenções cirúrgicas.
No Brasil, porém, o
trabalho preventivo em geral não ocorre ou não é realizado adequadamente,
fazendo com que a prevalência de UPs no ambiente hospitalar se torne extremamente
alta.
É indiscutível que a
identificação e o tratamento precoce permitem impedir a progressão e aceleraram
a regeneração da UP. Este fato influencia de maneira positiva na redução do
custo e evolução do tratamento.
O tratamento local das UPs pode ser dividido em
conservador e cirúrgico de acordo com a classificação:
- Úlceras graus I e I: podem ter cicatrização espontânea sem intervenção cirúrgica, desde que a ferida seja limpa e que seja impedida a pressão na área. Esta limpeza das UPs com água e sabão ou algum outro meio surfactante é o modo simples e efetivo de se limpar lesões superficiais, desde que seja feita com frequência e de preferência seja conservada seca. Pode-se proteger a pele ao redor da úlcera com adesivos espessos com o objetivo de prevenir a maceração da pele. Já a qualidade da pele regenerada por tratamento conservador é fina, sem glândulas sebáceas ou sudoríparas. O epitélio é geralmente seco e fino com suprimento sanguíneo pobre e deve ser lubrificado frequentemente com vaselina e hidratantes.
- Úlceras graus III e IV: de maneira geral necessitam de tratamento cirúrgico. As medidas conservadoras, consistindo de desbridamento local, diminuição da pressão local e trocas diárias de curativo têm pouca eficácia, uma vez que a úlcera crônica se desenvolve.
Em geral, o tratamento conservador de uma UP deve incluir medidas
multidisciplinares para reduzir ou eliminar os fatores desencadeantes, promover
cuidados específicos da ferida e otimizar o estado geral e nutricional do
enfermo. O tratamento inclui limpeza, revestimento e aplicação de agentes
físicos, além de desbridamento e investigação sobre colonização, quando
necessário. Destes, a higienização adequada e mudança de decúbito são
essenciais, e o suporte da enfermagem indispensável.
Como as úlceras cutâneas
crônicas são de difícil cicatrização e considerável incidência, torna-se
necessário uma abordagem multidisciplinar mais eficiente.
A fisioterapia, na
especialidade dermatofuncional, tem como objetivo, nos processos ulcerativos, a
redução no período de cicatrização destes, possibilitando aos indivíduos um
retorno mais rápido às suas atividades sociais e de vida diária, trazendo uma
melhora na qualidade de vida de pessoas portadoras de úlceras cutâneas. A fisioterapia tem dedicado esforços científicos a fim de aprimorar
muitas das suas técnicas terapêuticas, porém, no Brasil, existem poucos estudos
plausíveis para a validação da reparação tecidual.
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