A prática de
esportes é muito benéfica para a saúde da população. Ela melhora as condições
cardiorrespiratórias, controla os valores de pressão arterial, aumenta a
resistência física, fortalece a musculatura, previne patologias músculo-esqueléticas,
libera endorfina e serotonina, controla os níveis de colesterol e triglicérides
no sangue, entre outros benefícios.
Contudo, a
prática de atividades físicas de maneira inadequada pode levar à lesões
músculo-esqueléticas graves. Uma postura inadequada, uma carga de treinamento
elevada, a utilização de resistência acima dos valores que a pessoa possa
suportar são alguns exemplos das principais causas de lesões em atletas
amadores.
Na maioria
dos casos, o atleta amador procura superar seus limites ou então tenta igualar
seu treinamento com o de um atleta profissional. Assim, ele tende a aumentar
seu treinamento de maneira não gradual e acaba realizando atividades para as
quais ele ainda não está preparado. O resultado disto são lesões músculo-esqueléticas
graves e agudas que, se não tratadas adequadamente, podem se tornar condições
patológicas crônicas.
Em relação
aos atletas de alta performance, existe uma contradição em relação aos benefícios
do esporte. Ao contrário do que as pesquisas indicam sobre os benefícios da
prática de atividades físicas na saúde, para o atleta de alta performance a
prática de esportes está associada com condições patológicas agudas e crônicas.
Este tipo de
desportista está a todo momento tendo que superar seus limites e apresentar um
desempenho acima do que é considerado saudável. A carga de treinamento é
intensa e exaustiva. As lesões músculo-esqueléticas agudas são comuns a este
tipo de atleta e as lesões crônicas são uma certeza, principalmente as lesões
mioarticulares.
1 Lesões mais comuns
1.1 Contusão
Esse tipo de
lesão é comum em todos os tipos de esporte, principalmente nos esportes de
contato. Ela é uma escoriação geralmente ocasionada por uma pancada, contudo,
não é um tipo de lesão muito grave.
1.2 Luxação
Esta lesão
ocorre quando acontece uma descongruencia articular, ou seja, a perda de
contato entre os ossos de uma articulação. Tipo de lesão comum em jogadores de
vôlei, tendo como as articulações mais acometidas as articulações
interfalangeanas e a articulação glenoumeral.
1.3 Tendinite
É uma
inflamação de um tendão e ocorre principalmente quando se é necessário a
repetição de um determinado movimento. Todos os tipos de atletas estão
predispostos a apresentar este tipo de lesão, principalmente se não costumam
realizar alongamentos.
1.4 Entorse
A entorse é
uma lesão que acontece quando a articulação sofre algum dano, como o
deslocamento dos ossos ou até mesmo a ruptura parcial de algum ligamento. É um
tipo de lesão que não possui nenhum precedente, podendo ser causada até por um
tropeço. Atinge principalmente as articulações de membro inferior.
1.5 Distensão
muscular
Também
conhecida como estiramento muscular, é uma ruptura das fibras dos músculos ou
da fáscia muscular. Na maioria dos casos é causada por um grande esforço ou
estresses muscular.
1.6 Ruptura
de tendão ou ligamento
Principal
vilão dos atletas, pois deixa o desportista incapacitado de praticar o esporte.
A ruptura de um tendão ou de um ligamento acontece devido a um grande esforço
sobre essa área, diminuindo a sua resistência. Esse tipo de lesão ocorre quando
o desportista realiza um movimento errado ou realiza uma desaceleração.
1.7 Fratura
É uma ruptura
do osso, causando sua descontinuidade. Pode ser causada por estresse, pancada
ou até mesmo o excesso de treino.
2 Lesões causadas por overtraining
2.1
Supertreinamento: pode ser resultado de exercícios de curta duração e alta
intensidade ou por exercícios de longa duração e baixa intensidade. A prevenção
para essas lesões é evitar grandes volumes no aumento da duração ou da
intensidade desse treinamento, sendo indicado um aumento de 10% por semana.
2.2 Uso de
calçado inadequado: com a tecnologia atual é possível encontrar calçados
adequados para cada atividade física. Contudo, se o calçado for inadequado para
a modalidade física, podem ser desenvolvidas dores crônicas nos pés,
tornozelos, joelhos e coluna.
2.3
Alimentação inadequada e desidratação: estar atento a hidratação antes, durante
e após a realização da atividade física, estando sempre atento ao controle dos
eletrólitos que são perdidos durante a transpiração. Também é importante a
nutrição balanceada baseada na tríade carboidratos, lipídeos e proteínas,
lembrando que antes da realização de atividade física é importante a ingestão
de carboidratos.
3 Prevenção – Forma de tratamento mais eficaz
·
Estudar rigorosamente a sessão programada
·
Analisar os riscos de cada exercício
·
Avaliar clínica, física e psicologicamente o
atleta
·
Fazer um treinamento específico para cada
modalidade. Atletas de fim de semana são mais propensos à lesões
·
Fazer alongamento antes e depois de qualquer
atividade física
·
Manter sempre o equilíbrio muscular, ou seja, a
força
·
Conhecer bem as regras do esporte que será
realizado
·
Usar os equipamentos de proteção e as roupas de
cada esporte
4 Orientação para os primeiros socorros – Até 24h após a lesão
- Repouso: a estrutura lesada deverá ficar em repouso imediato, respeitando-se a dor do atleta
- Gelo: aplicar gelo na superfície lesada a cada 2h
- Compressão: a compressão da área afetada controla o edema e o hematoma
- Elevação do membro afetado: é importante para evitar a reação inflamatória, pois favorece o retorno venoso, diminuindo a formação de edemas e hematomas
- O que não fazer
- Calor: evitar qualquer forma de calor na região, pois estimula a circulação local, o que pode provocar edema e hematoma
- Álcool: não ingerir bebidas alcoólicas, pois possuem características vasodilatadoras
- Massagem: não é indicada na fase aguda ou inflamatória, pois pode aumentar o edema
5 Objetivos da fisioterapia desportiva
Em qualquer lesão, ocorrem eventos fisiológicos específicos
em resposta ao traumatismo. Cabe ao fisioterapeuta reduzir a gravidade desses
efeitos fisiológicos, optimizar o tempo de cicatrização e devolver o atleta à
competição o mais cedo possível sem comprometer seu bem-estar.
- Eliminar a dor
- Recuperar a mobilidade e a estabilidade da área lesada
- Recuperar a flexibilidade e força da musculatura envolvida
- Planejar o retorno ao treinamento específico através de um treinamento proprioceptivo, para ganho de segurança, confiança, força, agilidade e coordenação
Quando se fala de tratamento aos atletas lesados, condição
inerente ao esporte e frequente durante todo o ano, é necessário compreender o
protocolo, onde o então paciente deve ser encaminhado para o departamento
Médico-fisioterápico para uma avaliação médica e fisioterapeutica para
elaboração do diagnóstico e tratamento a ser realizado, este último sendo
prescrito e supervisionado pelo fisioterapeuta.
O retorno pleno do atleta é progressivo e gradual,
respeitando sempre o equilíbrio entre sua capacidade e a demanda das
atividades. O processo do veto ou liberação do atleta para a prática esportiva,
treinos e jogos é uma decisão conjunta entre médico e fisioterapeuta.
5.1 Técnicas para reabilitação
O uso de várias modalidades terapêuticas pode ser essencial
no controle e na redução das respostas fisiológicas. Se um programa de
reabilitação não for instituído de combinações entre as seguintes modalidades,
o ciclo da lesão poderá prosseguir:
- Eletrotermofototerapia: estimulação e potencialização muscular, remição cicatricial, controle da dor
- Mecanoterapia: fortalecimento progressivo resistido
- Cinesioterapia: fortalecimento com resistência elástica, alongamentos, exercícios posturais...
- Terapia manual: atuação nos desarranjos posturais, métodos para ganhar amplitude de movimento, diminuição da dor, liberação miofascial...
- Treino funcional: processo de reabilitação final, seguindo o princípio da especificidade
- Exercícios proprioceptivos: melhora a resposta sensório-motora para a prática esportiva e proteção mioarticular
- Massoterapia: tratamento para contraturas e espasmos musculares
- Estabilização segmentar – Core Training e Pilates: fortalecimento da região pélvica, abdominal e paravertebral
- Bandagem funcional: atua na limitação de movimentos preservando a área lesada e na diminuição do quadro de dor em injúrias miofascial
O exercício precoce é essencial para a reabilitação do
atleta. Eles podem aprimorar sua condição física pós-lesão em cerca de 1% ao dia,
enquanto perdem cerca de 3-7% caso permaneçam completamente inativos. Portanto,
quanto mais longo o período de tempo de inatividade do atleta, mais longo será
o período necessário para completar o programa de reabilitação.
5.2 Programa de reabilitação
Cada programa de reabilitação deve ser individualizado,
levando em consideração as características físicas e esportivas do atleta, o
tipo e grau de lesão, lesões secundárias, a resposta ao tratamento... Um
programa de fisioterapia deve ser elaborado de forma a atender as necessidades
do atleta, abordar as deficiências específicas e levar em conta as demandas
funcionais específicas do atleta para cada atividade física, por isso a
importância de uma avaliação fisioterapêutica adequada.
Antes de iniciar um programa de reabilitação, o
fisioterapeuta, o técnico e o atleta deverão elaborar um conjunto de objetivos
de curto, médio e longo prazo, baseados na lesão do atleta, no procedimento
cirúrgico realizado e na necessidade de competição. Os objetivos podem ser delineados
em relação à amplitude de movimento, à sustentação do peso e à progressão da
resistência nos exercícios.
O uso de protocolos de reabilitação preestabelecidos como
diretrizes para a progressão do atleta através do programa de reabilitação pode
ser valioso. Estes deverão se fundamentar em princípios derivados sobre o tempo
de cicatrização lesional e cinemática articular.
O avanço da reabilitação do atleta deverá basear-se na
avaliação diária do fisioterapeuta, quanto aos relatos subjetivos e os achados
objetivos. A progressão de uma fase para a outra deverá ocorrer depois que o
atleta alcançar os objetivos da fase atual.
5.5 Avaliação fisioterapeutica pós-lesional
A avaliação adequada de uma lesão é primordial para a
prescrição de um tratamento. É necessário conhecer a principal queixa do
paciente, o mecanismo de lesão, os sinais e sintomas aparentes e a gravidade da
lesão.
Para tanto, deve ser realizada uma anamnese detalhada,
buscando identificar as causas principais e secundárias da lesão; uma avaliação
física com testes específicos para o tipo de lesão relatada e possíveis lesões
secundárias; uma inspeção e palpação para a identificação de pontos dolorosos e
alterações estruturais; teste de força muscular; análise dos exames
complementares, que dirão a extensão da lesão... A partir dos resultados da
avaliação, é possível criar um programa de tratamento.
Após o início do programa, é primordial a reavaliação do
atleta, para se ter uma noção do avanço no tratamento. Nem sempre uma
modalidade de tratamento surti o efeito desejado em determinado atleta e é nas
reavaliações que o fisioterapeuta poderá ter um feedback da escolha do
programa. Além disso, causas externas ao treinamento também podem interferir na
evolução da reabilitação e a identificação e correção dessas causas são fundamentais
para o sucesso do programa.
5.4 Fisioterapia desportiva preventiva
A fisioterapia desportiva dedica-se não somente a
reabilitação do atleta lesionado, mas também à adoção de medidas preventivas a
fim de reduzir a ocorrência de lesões. Um trabalho adequado preventivo, além de
melhorar a performance dos atletas, certamente trás economia para o
grupo/equipe, sendo necessário menos recursos financeiros no tratamento dessas
lesões.
A fisioterapia desportiva tem buscado as mais diversas
possibilidades para que cada vez menos lesões venham ocorrer durante estas
atividades esportivas. Um exemplo são as atividades proprioceptivas, que,
implementadas no dia-a-dia dos atletas, têm demonstrado a eficácia no
equilíbrio e senso de posição articular, além da melhora na resposta
sensório-motora e a sua eficácia é comprovada através de diversos estudos. Além
destes, o Core Training, técnica de fortalecimento e estabilização do centro do
corpo, transmitindo força sinérgica aos membros e estabilidade segura aos
movimentos explosivos do esporte, também traz um diferencial para os atletas.
5.5 Avaliação fisioterapeutica preventiva
A avaliação fisioterapeutica pré-participação e as
reavaliações de controle são de extrema importância na prevenção e diminuição
de lesões, pois o fisioterapeuta é capaz de analisar as alterações
biomecânicas, aspectos fisiológicos e de treinamento de cada atleta, além dos
equipamentos utilizados na prática esportiva. Atua nos fatores de risco
encontrados na avaliação, prevenindo assim a ocorrência de lesões e o
consequente afastamento do esporte.
- Segurança na prática do esporte
- Melhora do bem estar e qualidade do treinamento
- Diminuição de queixas e desconfortos advindos da prática de esportes
- Conforto e praticidade
- Uso de equipamentos adequados
- Diminuição na incidência de lesões
Para tanto, o fisioterapeuta deve os treinos e os jogos do
atleta para conhecer as exigências específicas da modalidade esportiva
realizada e identificar as causas e fatores de risco de uma possível lesão.
Um roteiro objetivo e claro para avaliação fisioterapeutica
na pré-temporada de um atleta seria:
- Identificação do atleta: modalidade esportiva, posição (em esportes de equipe), idade, sexo, membro dominante
- Histórico de lesões, seus respectivos tratamentos e resultados
- Queixas atuais, se existentes realizar uma avaliação aprofundada
- Análise postural
- Podologia
- Avaliação isocinética (dinamômetro), principalmente dos músculos mais utilizados durante a prática esportiva
- Testes específicos funcionais: amplitude e velocidade de movimento, estabilização articular, compensação muscular acessória
- Avaliação proprioceptiva, principalmente de membros inferiores
- Eficiência e consciencia da musculatura estabilizadora (transverso do abdome, glúteo máximo, trapézio inferior, vasto medial)
- Testes cardiorrespiratórios específicos
Não é raro um atleta omitir durante a anamnese relatos sobre
sua condição física ou queixas atuais, fatos que podem ser trazidos à tona
durante uma avaliação física criteriosa. Nesses casos, não se deve julgar o
atleta e recriminá-lo. É necessário, todavia, ganhar a sua confiança e
alertá-lo dos riscos de lesões que sua condição atual poderá causar.
5.6 Perfil do fisioterapeuta desportivo
O funcionamento básico para um bom profissional na área
desportiva são exatamente os conhecimentos básicos de anatomia, cinesiologia,
fisiologia humana e biomecânica. O profissional, inevitavelmente, estará
sujeito a inúmeras e constantes pressões e cobranças em termos ao resultado do
seu tratamento, para um retorno funcional e no menor tempo possível do atleta à
sua prática esportiva.
O trabalho do fisioterapeuta desportista é muito diferente
do trabalho de um fisioterapeuta comum, pois tudo tem que ser muito rápido e
funcionalmente mais efetivo, pois o atleta, mais do que qualquer outro
indivíduo, precisará todas as funções do seu corpo no máximo de potencia e
amplitude para execução perfeita de todos os movimentos.
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